Como desenvolver minha criatividade?

A criatividade envolve a transformação de nossos talentos, conhecimentos e visão em uma nova realidade externa original e valiosa. É a habilidade de combinar elementos existentes, conceitos, técnicas, objetos e materiais para gerar novas ideias e soluções para os desafios e problemas de nosso dia-a-dia. Por exemplo, Gutenberg combinou a prensa de uvas e os moldes de cunhar moedas para produzir sua impressora. Do esmagamento de uvas ele isolou e extraiu o conceito “prensa”; da cunhagem de moedas extraiu o conceito “gravação”; combinou-os e os transferiu para a impressão de livros.

Esta habilidade pode ser desenvolvida. Para tanto, devemos estar cientes de que ela resulta da combinação de vários fatores internos e externos ao indivíduo:

a) As características individuais como: Personalidade – a disposição para enfrentar novos desafios e correr riscos; Temperamento – a capacidade de enfrentar críticas e incompreensão e persistir em seus planos; Motivação – o firme desejo de fazer algo diferente, ignorar a multidão e explorar novos caminhos, profundamente e sem restrições; Habilidades Mentais – os talentos e as inclinações naturais que definem nossas habilidades de produzir valor.

b) Harmonia entre seu trabalho e suas habilidades intelectuais: acerto na escolha de um campo de atividades que lhe ofereça a oportunidade de exercer plenamente seus talentos e inclinações.

c) Competência profissional: o domínio dos conhecimentos necessários ao pleno exercício de suas atividades. Contudo, não se deve ignorar que muitas soluções criativas são resultantes da combinação de conceitos e conhecimentos de diferentes campos de atividades. Escapar dos estreitos limites de sua especialização pode ampliar significativamente sua capacidade criativa.

d) Ambiente de trabalho que estimula a procura de novas ideias, valoriza as contribuições para criação de novos processos e produtos e combate todas as formas de bloqueios à criatividade.

e) O conhecimento do processo criativo: como funciona e quais as suas etapas, que obstáculos podem bloquear nossa mente e que técnicas podemos usar para superá-los.

Habilidades mentais – O conceito de múltiplas inteligências

Creio que a condição mais importante para o desenvolvimento de nossa capacidade criativa seja a compatibilidade entre nossas habilidades mentais e nossas atividades. Só podemos nos tornar criativos quando há harmonia entre nosso trabalho, nossos talentos e nossas competências pessoais.

A verdadeira criatividade é impossível sem alguma medida de paixão. O melhor modo de ajudar as pessoas a maximizar seu potencial criativo é permitir que elas façam algo que amam. Teresa M. Amabile: Creativity in Context

As habilidades mentais resultam do nosso perfil de inteligência e expressam a capacidade de raciocinar, compreender ideias, resolver problemas e aprender. A visão tradicional de inteligência tem sido fortemente desafiada nos últimos anos, especialmente pela Teoria de Múltiplas Inteligências de Howard Gardner. Segundo Gardner, ao invés de haver um único tipo de inteligência, as pessoas são vistas como possuidoras de um conjunto de tipos de inteligências relativamente independentes. Esta teoria explica as diferenças de habilidades entre as pessoas para lidar com assuntos distintos como matemática, música, comunicação verbal ou escrita. Em seus estudos, Gardner identificou nove tipos de inteligências:

Lógica: Habilidade de pensar logicamente, reconhecer padrões e trabalhar conceitos abstratos. Mais associada ao pensamento científico e matemático. Aqui se encontram os engenheiros, matemáticos e cientistas.

Musical: Capacidade de distinguir sons e de criar, interpretar e apreciar música. São as habilidades apresentadas por compositores, músicos e dançarinos.

Naturalista: Apresentada por aqueles que são talentosos em observar, entender e organizar categorias, especialmente as encontradas na natureza. Naturalistas, botânicos e bibliotecários.

Intrapessoal: Encontrada em pessoas introspectivas e intuitivas. Capacidade de autoconhecimento e de interpretar seus sentimentos, medos e motivações. Escritores, psicoterapeutas e conselheiros.

Existencial: Pessoas voltadas para questões fundamentais da existência: Qual o meu papel na família, no trabalho ou na comunidade? Hábeis em relacionar detalhes com o todo. Filósofos e teólogos.

Espacial: Habilidade de visualizar objetos e dimensões espaciais e de criar imagens internamente. Abrange a sensibilidade a cores, linhas, formas, espaço e as relações que existem entre estes elementos. Compreende também a capacidade de se orientar em grandes espaços como metrópoles, florestas, mares e desertos. Neste grupo estão os escultores, arquitetos, urbanistas e navegantes.

Linguística: Habilidade para usar palavras e a linguagem verbal e escrita. Habilidade para falar diversos idiomas. Linguagem como meio de guardar e lembrar informações. Escritores, jornalistas, poetas e oradores.

Interpessoal: Habilidade para entender as intenções, desejos e motivações dos outros. Habilidades de comunicação, relacionamento e persuasão. Políticos, religiosos, professores e vendedores.

Cinestésica: O conhecimento do corpo e a habilidade de controlar seus movimentos. Potencial de usar o corpo para dança e esportes. Dançarinos, mímicos e desportistas.

Estas inteligências não são mutuamente excludentes, agem combinadas e se reforçam mutuamente. Cada pessoa apresenta uma combinação única de inteligências em tipos e graus. Esta combinação define as habilidades criativas do indivíduo, isto é, a sua capacidade de lidar com problemas e oportunidades. Algumas pessoas são compositores criativos, mas podem ser um fracasso como atletas ou ter dificuldades para se relacionar com outras pessoas. Há tantas formas de criatividade quantas são as possíveis combinações dos nove tipos de inteligência.

Criatividade e inteligência

A teoria de Gardner traz uma visão nova e esclarecedora sobre a relação entre criatividade e inteligência e como podemos aprimorar nossas habilidades criativas. Podemos considerar que a criatividade resulta não somente do nosso nível de inteligência, mas também do nosso perfil de inteligência e da escolha de um campo de atividade compatível com este perfil. A criatividade floresce quando há paixão pelo trabalho, e somente há paixão quando temos a oportunidade de seguir nossa vocação e aplicar nossos talentos.

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O automóvel de da Vinci

Interessante reconstrução virtual e material do primeiro mecanismo que pode ser chamado de automóvel (que se move por si). Um sofisticado mecanismo inventado em 1495 pelo gênio italiano Leonardo da Vinci. Clique na tela para abrir o vídeo.

Leonardo Da Vinci Automovile (1495)

Quanto mais estudamos a vida de Leonardo da Vinci, mais admirados ficamos com sua genialidade e, principalmente, com a amplitude de seus interesses, conhecimentos e experimentos. Seus trabalhos e investigações vão desde a pintura até a medicina, passando pela escultura, arquitetura, física, mecânica, engenharia e outros. É o caso raro de uma mente que cobre quase todos os tipos de inteligências do modelo de Múltiplas Inteligências de Howard Gardner (veja o artigo Criatividade e Inteligência neste blog).

Quando examinamos as grandes invenções de Leonardo da Vinci, além de sua notável genialidade, devemos considerar também a época em que ele viveu, e como o ambiente social e cultural influiu sobre sua formação e sobre seu trabalho.

Leonardo viveu em plena Renascença, nos séculos XV e XVI, época de grande prosperidade econômica na Itália, conhecida como a época do Humanismo e que se caracteriza por enormes progressos nas artes, nas leis e nas ciências. A Igreja Católica e as ricas famílias como os Medici, Sforza e Borgia apoiavam financeiramente e estimulavam os artesãos e artistas. Os jovens talentosos como Leonardo, Rafael e Michelangelo tinham a oportunidade e o apoio para desenvolverem suas habilidades. Em resumo, a Renascença foi um momento de efervescência cultural; de retomada do interesse pelos grandes filósofos, escritores e artistas gregos; e pela valorização de novas ideias no campos das artes, arquitetura e filosofia.

O talento é fundamental, mas pode ser totalmente desperdiçado por um sistema escolar que inibe a imaginação e por um ambiente que valoriza a mesmice, teme as mudanças e bloqueia a criatividade.

Para sua reflexão: Leonardo era filho ilegítimo de Piero da Vinci, um jovem notário e de Caterina, uma camponesa. Quais seriam as chances de Leonardo se ele vivesse hoje? Se trabalhasse nas organizações que você conhece?

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