Pensamento Lateral: como se libertar dos bloqueios mentais

Em algumas organizações, o processo de solução de problemas poCavando buracode ser comparado à procura de um tesouro pela escavação de um terreno. Se já existe um poço, tendem a escavá-lo mais profundo. Quanto mais fundo o poço, mais difícil enxergar o que está acontecendo em outras partes do terreno. Se alguém se aproxima, é encorajado a se juntar aos que já estão no buraco.

O efeito geral é chamado inércia psicológica. Quanto mais cavamos, mais comprometidos ficamos com o poço que escolhemos. Se não conseguimos resolver o problema, julgamos que nosso fracasso se deve ao fato de que não cavamos o suficiente. Novos recursos são usados para acelerar a escavação:

  • Mais escavadores.
  • Melhores pás.
  • Treinamento dos escavadores.
  • Substituição dos escavadores próprios por terceirizados.
  • Mecanização do processo de escavação.

Abandonar o poço não é uma decisão fácil. A todo o momento, aparecem indícios de que o tesouro está próximo, decidimos cavar um pouco mais e vamos-nos enterrando. Ao invés de ser resolvido, o problema cresce e o buraco acaba por se tornar a sepultura de iniciativas bem intencionadas, mas mal direcionadas.

No terreno das ideias, cavar o mesmo poço mais fundo equivale a insistir no uso de abordagens e ideias com as quais estamos habituados, mas que não funcionam com o problema a resolver. Isto acontece, principalmente, por duas razões. A primeira é a nossa resistência em abandonar soluções e abordagens que funcionaram no passado, a armadilha da experiência. A segunda está ligada à maneira como interpretamos e lidamos com os dados e informações sobre o problema, a armadilha das percepções.

Em sua maioria, os erros de pensamento são inadequações de percepção e não erros de lógica – Edward De Bono, Criatividade Levada a Sério.

O que fazer? Mudar de direção. Se o caminho que você escolheu não o leva a lugar nenhum, mude de caminho, cave outro poço em outro lugar.

A esta mudança de perspectiva e de procura de enfoques não usuais, Edward De Bono chama de Pensamento Lateral (Lateral Thinking). O Pensamento Lateral pode ser definido como uma heurística para solução de problemas, em que você tenta olhar o problema de vários ângulos, ao invés de atacá-lo de frente. É o uso de um processo não linear de raciocínio, para checar suposições, mudar perspectivas e gerar novas ideias.

De Bono usa uma história para ilustrar o conceito de Pensamento Lateral. Um comerciante que deve dinheiro a um agiota concorda em resolver o débito com base na escolha de duas pedras, uma branca e outra preta, colocadas numa sacola. Se sua filha tirar a pedra branca, sua dívida será perdoada. Se tirar a pedra preta ela deverá se casar com o agiota. A moça percebe que o agiota coloca duas pedras pretas na sacola, mas fica calada. Chegada a hora do sorteio, ela pega uma das pedras da sacola e a deixa cair no pátio cheio de outras pedras. Ela então diz que a pedra que caiu deve ser da cor contrária a da pedra que restou na sacola. O agiota, para não passar por desonesto, concorda e a dívida é perdoada.

O Pensamento Lateral equivale a cavar poços em outros locais, ao invés de cavar mais fundo. Abandonar o poço e cavar em outro lugar equivale a uma ruptura com o modelo de pensamento a que estamos habituados.

Há várias ferramentas de criatividade baseadas no conceito de Pensamento Lateral e que nos ajudam a olhar o problema sob novas perspectivas, como o Questionamento de Suposições, Outros Pontos de Vista, Leque Conceitual e SCAMPER.

Você encontrará tutoriais detalhados destas e outras ferramentas de criatividade no meu livro Criatividade Aplicada.

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